Cama sem pé nem cabeça

Construir um objeto com base na sucata hospitalar, encontrada no Hospital Psiquiátrico Ulisses Pernambuco. Uma cama é construída, no entanto, paradoxalmente a mesma não tem nem pé nem cabeça, e, assim nominou-se o objeto: Cama Sem Pé Nem Cabeça. Nas dependências do Hospital a artista constrói uma instalação com a o objeto Mulher de Ferro (2005) participando da instalação. Cama sem pé nem cabeça x Loucura x Armadura d ferro- Ella entra na Tamarineira com todo o furor de uma Mulher Guerreira e dentro da proposta do coletivo encontra o mote da cama...afinal tinham esvaziado um pavilhão e as camas estavam recém desativadas e com toda a energia do lugar, inclusive o espaço físico que tb fez parte(salas) e tb minhas primeiras impressões/sensações ao iniciar o diálogo com a loucura . Uma instalação com performance e é nesse momento que introduzo a Armadura de Ferro.Duas salas:uma grande acolhia a cama e o vazio, o silêncio;a outra pequena era da Armadura e todos que por ali passavam escreviam nas paredes e chão, vozes e conversas conectadas com o lugar.Através de um fio a cama e a armadura se ligavam e complementavam    A cama simboliza o inconsciente coletivo e ella só veio perceber depois de muitas ações envolvendo o objeto dentro e fora do hospital psiquiátrico.E, a armadura traz consigo a sombra,uma representação de sentimentos e personalidade onde a energia não fluiu e que precisam ser trabalhadas e superadas.Esse ponto de encontro entre o inconsciente coletivo e a sombra é objeto de pesquisa... várias formas de expressão, sentimento, o toque na matéria argila e uma realidade sem fronteiras, me levaram a pensar numa instalação que pulsa, uma instalação rica de sentimentos inesperados.

Entre 2009 a 2012, Christina Machado guardou, armazenou, mais de 1.500 objetos feitos em cerâmica pelos pacientes do Ateliê Aberto que fundou no Hospital Psiquiátrico Ulisses Pernambucano, na cidade do Recife em Pernambuco no nordeste no Brasil. Ao eleger como matéria principal a argila e disponibilizá-la para esses pacientes investiu em uma pesquisa sobre a matéria e sua materialização, por meio das experiências, dos gestos, das histórias e das memórias desses sujeitos que imprimiam na argila suas existências. Também, ao longo da pesquisa, a artista propõe vivências através de desdobramentos da sua poética, e a coloca a disposição de outros públicos como artistas, profissionais da saúde mental, estudantes, pesquisadores, entre outros interessados. Esses encontros ocorreram no espaço do Ateliê Aberto, proposto em um dos eventos ocorridos lá e aberto a comunidade, dentro da programação da Semana de Artes Visuais do Recife (SPA-Tamarineira), onde esses públicos puderam conviver com os internos do Hospital e dividir o mesmo espaço de criação em uma vivência artística onde todos os participantes se apropriavam de um molde da cabeça da artista em argila e interviam cada um a sua maneira. À convite da psicóloga Gina Ferreira, a artista desenvolveu ação semelhante na cidade de Paracambi no Rio de Janeiro, durante o projeto Cinema na Praça, cuja oferta ao participante era a de viver a experiência de sua proposta artística na radicalidade: a da máscara moldada no corpo físico, transformada em objetos vazio, sem poder, distante da percepção sensível que figura o rosto (...) (Ferreira: 2002, p. 31), e ao toque das mãos nessa mascara de cerâmica (o rosto da artista) o participante à transforma em experiência estética. Todos esses repertórios cointegram a exposição Minha Cabeça, Nossa Natureza, da artista Christina Machado que construiu uma obra aberta, um recorte ficcional dessas suas experiências e dos inúmeros rastros e vestígios do outro, um manto tecido à mão, composto por experiências e entregas, junções e diálogos que produziram narrativas escritas de maneiras muito diferenciadas, costuradas e cerzidas pelas mãos de Christina Machado.

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