A pele é o que separa o corpo do mundo

"Pesquisando e na intenção de deixar painéis de grande dimensão cada vez mais leves cheguei a uma espessura milimétrica, não mais lajotas e sim a pele, e que quando colocada sobre parede encontra sua magia: Pele Orgânica, Pele Cerâmica, o fogo destrói, o fogo eterniza, opostos que se atraem."

É a base, esteio estrutura de toda a poética e pesquisa artística de Christina Machado. Ao realizar sua primeira tela de cerâmica produziu uma textura suave tão familiar que se assemelhava a pele orgânica.Camadas e camadas eram sobrepostas uma à outra e depois de receber o calor do forno e em altíssima temperatura o resultado se alterava, produzindo uma visualidade no plano bidimensional de uma base quebradiça, leve, repleta de fissuras que dava a impressão no primeiro olhar de um mapa, uma cartografia. Suas pesquisas partem dessa investigação, dessas espessuras cada vez mais finas, cada vez mais pele, a própria argila em si. Viajando à Carnaúba dos Dantas - região do Seridó do Rio Grande do Norte, nordeste do Brasil , e durante esse processo, se depara com sítios arqueológicos com inscrições rupestres de diferentes épocas. A sensação de estar naquele universo olhando as pinturas, a textura, o pigmento e a própria argila do lugar produziu na artista uma mudança radical em suas pesquisas e no uso da cerâmica. Essa atitude investigativa com a matéria e as muitas possibilidades de seus usos representou uma mudança estrutural no uso da técnica e a fez buscar novos formatos de expressão, outras referências de tintas à base de óxidos e argilas naturais. E por fim, a pesquisa intensa que fez aos poucos emergir a Pele, provocou uma radicalidade por parte da artista, criando uma aproximação entre a arte e a relação com a vida. A cor, a textura e também a forma que remetia à pele humana é exposta e revelam-se as relações entre pele orgânica e pele cerâmica. Ao mesmo tempo em que o fogo constrói um corpo cerâmico, ele destrói o corpo orgânico. Quando opostos se atraem.

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